Gato de Apartamento

O comportamento dos felinos pode nos dizer muita coisa. O seu gato está bem adaptado ao ambiente em que vive?














Gatos vivendo exclusivamente dentro de apartamentos são uma realidade hoje em dia, considerando que estão cada vez mais se tornando o animal de estimação preferido pelas pessoas no mundo todo. Além das suas características apaixonantes (quem tem gatos sabe bem), eles são extremamente limpos e seus hábitos de higiene exigem muito menos cuidados que um cão. Gatos urinam e defecam nas suas caixas de areia, não necessitam de passeios, exigem menos banhos, podem ficar sozinhos em casa o dia todo, às vezes mais de um dia, desde que tenham água, comida e caixas de dejetos suficientes.

Porém, a domesticação dos gatos transformou os hábitos de vida livre que a espécie possui em “confinamento”, tendo todas as suas atividades restritas ao que o seu proprietário oferece, e não àquilo que a natureza dispõe.

Os gatos que tem vida livre ou que tem acesso à rua estão suscetíveis aos riscos que o meio externo apresenta, como acidentes, brigas, maus tratos e doenças; esses gatos têm uma expectativa de vida de dois anos. Já os nossos gatos de apartamento estão muito mais protegidos desses fatores externos, podendo chegar a viver em torno de 16 anos. Porém, esta restrição de espaço e de atividade pode trazer conseqüências à saúde e até mesmo ao bem estar dos bichanos.

Ao contrário do que muitos pensam, os gatos são independentes apenas em relação aos seus hábitos de higiene, mas são muito dependentes de carinho e atenção. O gato pode sim ficar mais tempo sozinho que um cão, mas isso não significa que ele fique satisfeito. Por mais que o gato esteja restrito a um apartamento ao invés de estar livre, podemos transformar nossa casa em um local interativo para ele, fornecendo atividade que supram suas necessidades de exercício e procurando manter seus instintos.

Quando o gatinho está adaptado e feliz, ele:
  • Dorme cerca de 16 horas por dia;
  • Realiza a lambedura da sua pelagem em torno da metade do tempo que está acordado;
  • Responde aos estímulos de brincadeira;
  • Caça objetos;
  • Sobe em móveis;
  • Interage com os humanos da casa e com outros animais;
  • Pede carinho;
  • Ronrona;
  • Urina e defeca em local adequado;
  • Alimenta-se bem.
Quando o bichano está sofrendo com a restrição de espaço, ele:
  • Esconde-se frequentemente;
  • Demonstra medo e agressividade;
  • Urina e defeca fora da caixa de areia (isso pode representar a marcação de território e acontece em vários locais da casa, em um local específico ou próximo a caixa de dejetos);
  • Apresenta comportamentos compulsivos, como lambedura excessiva, sucção tecidos, excesso de apetite, perseguição de sombras, etc.



















Muitas vezes esses transtornos podem ocorrer pela presença de outros gatos ou outros animais na casa. Gatos são seres que gostam de ter seu próprio espaço, que costumam se sentir mais confiantes com pessoas e ambientes conhecidos, onde tenham o controle do ambiente, e ter que dividi-lo com outros pode deixá-lo infeliz.

São comuns os problemas de saúde relacionados ao estresse pela presença de outros animais. Os mais comuns são os problemas urinários e a alopecia psicogênica. Os problemas urinários ocorrem muitas vezes pois o gato evita ir na caixa de areia por se sentir intimidado por outro gato ou por ter um cão que o segue por todos os lados. Na alopecia psicogênica o gato realiza o cuidado excessivo da pelagem, sem fatores clínicos que justifiquem, com lambedura e mastigação do pelo, provocando alopecia e lesões na pele. A lambedura excessiva, e outros comportamentos compulsivos, é uma forma de o gato lidar com estresse, ansiedade e frustrações. Estes comportamentos podem ocorrer ainda como forma de chamar a atenção do proprietário.

A socialização do gato com os humanos, com outros gatos e com animais de outras espécies deve acontecer enquanto filhote, tornando-se um adulto mais adaptado. A falta de socialização pode prejudicar, no futuro, sua adaptação a situações, locais e pessoas diferentes, gerando alto grau de estresse toda vez que for obrigado a se deparar com circunstâncias diferentes daquelas a que esteja habituado. Uma boa socialização permitirá que o gatinho se torne facilmente adaptável à presença de seres humanos, sendo receptível às visitas que chegam ao seu “território”, sem que esta experiência se torne algo amedrontador e o faça esconder-se num cômodo até que os “invasores” deixem o ambiente.

Mudanças sutis no território podem ser suficientes para uma reviravolta no comportamento do gato, por isso, se o seu bichano for muito sensível, evite mudanças desnecessárias no ambiente, como a introdução de novos animais, mudança de lugar de móveis, reformas e mudanças de casa. Caso sejam necessárias, as mudanças devem ser feitas de modo gradativo.

Gatos machos não castrados tendem a sofrer mais em espaços menores, pois tem seu instinto sexual, de caça e de marcação de território muito mais evidentes.
























Respeite o espaço que seu gato necessita: posicione a caixa de areia em local tranqüilo, fora da área de passagem, e longe pelo menos um metro da sua água e comida e da sua área de descanso; tenha caixas de dejeto grandes, no mínimo uma a mais que o número de gatos da casa; ofereça vários potes de água pela casa, e deixe a comida em local de fácil acesso. Além disso, promova o enriquecimento ambiental com prateleiras, túneis, brinquedos, fontes de água, etc. para que o gato possa interagir e exercitar-se, participe das brincadeiras, respeite seus medos, evite situações estressantes e, muito importante, dê atenção e carinho. Ele saberá retribuir!

Escrito pela Médica Veterinária da Gatices Raquel Redaelli para matéria publicada na Revista Pulo do Gato, Caderno Especial Comportamento, Edição 73, Janeiro / Fevereiro 2013 (disponível apenas em versão impressa).

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